segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Violino

   Você nunca supõe que uma ida medíocre ao banco será a melhor parte do seu dia, até que acontece.
   Do lado de fora, escorado em uma coluna, o jovem violinista nos dava mais que a alegria de sua música. Dava-nos sorrisos. E a meu ver, sinceros.
   A pressa da cidade não me deixou contemplá-lo por muito tempo. Aqui é tudo tão corrido que penso que se eu paro para observar algo por mais de um minuto, acabarei sendo empurrada sob acusações de engarrafar a calçada.
   Continuei espiando-o da fila do banco. Ele parecia tão satisfeito de estar ali! Assim como eu agora também estava.
   E então chegou ao fim a melodia chorosa e harmônica. Olhei por cima das várias cabeças que se sucediam a mim na fila, e o músico estava abaixado junto à caixa do instrumento. Tudo que pude ver foram seus cabelos cor de trigo.
   Ele devia estar contando o lucro daquela tarde. Mas afinal, quanto vale a alegria de ter música em meio a tanto caos? Claro que a maioria passava ao lado dele e com certeza não sentia som algum. Jogavam uma moeda ou outra pelo costume de sempre fazerem isso com quem para na ponta da calçada.
   Eu nunca o daria dinheiro. Não é justo trocar algo tão nobre por um pedaço sujo de papel, cujo existem milhões de cópias por aí.
   Eu lhe retribuiria o sorriso, e talvez ficasse ali, ouvindo até ele se cansar. Mas ambos engarrafariam a calçada.
   Resolvi meus problemas burocráticos, mas o violinista já havia partido quando saí. Olhei para os lados em busca dele, mas nenhum sinal. Só a mesma aglomeração apressada de sempre. Respirei fundo e segui com eles, um pouco mais rápido que eu andaria, para me encaixar.
   Mas a cidade me pareceu mais bonita desde então. Por que apesar de tudo, agora sei que ela esconde o melhor músico que já vi: Um que distribuía sorrisos e não precisava de palcos.

Um comentário:

  1. Valeu a pena de eu parar de fazer cálculos binários um pouco, para dar uma olhada no seu blog. ^^ Com certeza esse foi o seu melhor texto.
    Até senti saudades da minha flauta que não pude trazer comigo pra Goiania. Vou buscá-la no próximo final de semana, sorrir um pouco nem que seja sozinho, ou acompanhado pelo meu amigo Bruno.

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