Quero falar do vazio. Do gigante, que não fecha, que não cessa. Não quero falar de amor, ou de ódio ou de indiferença, só o vazio que não vai, que me cai.
Que sempre esteve aqui e sempre estará, que pulsa e aperta e venta. Que nada cabe, nem ninguém. O buraco sem fundo que não tem tampa. Que não é janela, que não dá resposta, nem tem outro lado.
A grande tristeza, que nem é triste, que é oca, sem ar, sem temperatura. Entorpecência que me acompanha lado a lado pela vida e que às vezes me dá "oi". Só pra eu saber que ainda está ali, só pra brincar de inspiração, só pra ter certeza de que me é confortável, que eu sinto falta, que eu sigo à risca uma frase boba que li de uma entrevista desinteressante. "Felicidade demais cansa". E assim, até cavo o próprio vazio só pra me esticar pra fora e sair pra respirar depois. Sair e escrever bonitinho alguma coisa.
O auto-flagelo que todos deviam tentar, mas me olham torto quando tento explicar. E esse buraco que nem é negro, mas acinzentado com as bordas douradas, como o sol, eu o utilizo muito bem. É como ter um próprio sol, mas só me bronzear às vezes, quando me canso da felicidade fresca. Que uso pra me iluminar as ideias. Mas por que não ter boas ideias na felicidade? Porque aí não falta nada. Felicidade dá essa sensação empanturrada de que não cabe mais nada.
Vomitar essa tristeza abre espaço pra inspiração. É como uma meditação. Quem usa, entende. Nem adianta falar de humor. É só um vaziosinho do bem. É amigo e não faz mal. Mas o sintoma é ficar quieto, calado, doendo pra rir, querendo produzir. Quem produz, meio que precisa. E quem tem, tem que saber usar.
É quase um dom, gostar de um aperto assim. Conseguir lidar com a falta de sentido que pousa leve como uma borboleta, fica ali machucando e ajudando, por umas horinhas e depois voa de volta pro esquecimento.
Falo disso porque acontece. Agora. E não dá pra sentir nada enquanto acontece. Nem amor, ou ódio, ou indiferença. Só o vazio que não vai e que me cai.
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