segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A facilidade que escolhi

   Quem dera fosse difícil amar.
   Quem dera fossemos pedras secas de onde se sobe o pó e reluz o sol, impenetráveis e imutáveis, foscas e ranhosas. Seria tão mais simples, tão mais prático, talvez.
   Mas, não. Amar é fácil, quando vemos já aconteceu. Quando vemos já estamos sorrindo sozinhos, dando bom dia pra estranhos e fazendo planos com alguém que passou a significar mais que nossos próprios planos secretos e solitários.
   Não mais secretos, tampouco solitários.
   Quando vemos, estamos gritando que nosso amor é maior que todo e qualquer amor já confessado nesse mundo, maior também que os que ainda serão sentidos, escondidos ou declarados. E por mais que todos os amantes possam dizer o mesmo, no fundo continuamos pensando que só o nosso é assim tão grande. É tão bobo.
   E é tão difícil ser então essa pedra esperta, inteligente e incapaz de amar, que você se esforça, nega, tenta não sorrir, não pensar. É difícil não amar. Você precisar dizer muitos "não quero" e "não posso" que talvez não existam. Você precisa criar tantos problemas imaginários. Você precisa acreditar que é bom ser tão duro assim, com aquele olhar cansado de quem não dormiu por lembrar de quem não se ama, porque não ama!
   Fácil é confessar que depende de alguém pra estar bem, que você não vive mais só por si. Que os problemas que você inventa, até que existem, mas são irrisórios perto daquilo que você se nega a sentir.
   O amor é fácil como se deslumbrar com a natureza após soprar um dente de leão, como gostar de pisar no chão de madeira que não conduz calor, numa noite fria. E é leve como chá de bergamota numa tarde de chuva.
   Difícil é negar pra si mesmo a beleza de um pôr do sol quando ele está se escondendo atrás do mar, na sua frente. Ou negligenciar o sono, com suas pálpebras já fechadas. Mas mesmo assim, o amor é descartado. Há quem consiga, há quem se esforce.
   E depois de transformado, de blindado, de congelado, seu coração parece feliz, mas está entorpecido pela necessidade que você constrói. Mas sem amar você sabe, no fundo você sabe, que é a vida é como um passarinho e se o amor é brisa, quando venta dói.

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